UM DIA DE FÚRIA
- Rodolfo Araújo
- 22 de abr.
- 2 min de leitura
– Quem me conhece sabe que eu não sou assim.
O roteiro é conhecido: alguém fez uma coisa muito errada, está sendo cancelado e precisa se retratar.
Aí a pessoa veste uma camiseta branca e grava, de cara limpa, um constrangido pedido de desculpas, sempre com frase do título – e uma expressão de pobre coitado injustiçado.

↳ Parece teatro.
↳ Tem cor de teatro.
↳ Soa igualzinho a teatro.
É teatro!
[Mas nem sempre.]
Nem sempre nossos comportamentos refletem nossos valores e crenças. Muito do que a gente faz está relacionado ao ambiente, ao contexto, à situação.
→ A mesma pessoa que joga lixo no chão de uma rua imunda, guarda seu lixo numa estação de metrô.
→ A mesma pessoa que ama seus amigos, joga pedras na torcida adversária, onde seus amigos estão.
O ambiente tem tanto impacto no nosso comportamento, que na década de 1960, Stanley Milgram mostrou que pessoas normais seriam capazes de eletrocutar (leia-se: matar) um estranho quando colocadas sob pressão.
Dez anos depois, Philip Zimbardo transformou universitários em guardas sádicos, que torturavam seus colegas de classe no infame experimento do presídio de Stanford, simplesmente criando um ambiente opressor e sem regras muito claras.
Pessoas normais – como eu e você – que quando submetidas a contextos desconhecidos e, motivados por incentivos deturpados, foram capazes de atos imprevisíveis e inexplicáveis.
Por isso, quando você precisar avaliar – ou prever – as atitudes de alguém, considere:
[‡] Que objetivos está buscando?
[‡] Com que recursos ele conta?
[‡] Quais são suas restrições?
[‡] Quem precisa agradar?
[‡] E se fracassar?
E isso será tanto mais sério, quanto mais pressão a pessoa sentir vinda do ambiente.
Coisas do tipo:
! Volume insano de trabalho
! Cobranças exageradas por resultados
! Competições internas com colegas de equipe.
! Situações de assédio moral disfarçadas de incentivos.
! Procedimentos internos que atrasam ou impedem o trabalho.
Se um ou mais desses itens te soa familiar, qualquer avaliação que se faça das pessoas estará contaminada pelo ambiente.
A tomada de decisão é completamente diferente. Ela vai omitir, mentir, dissimular, ocultar, fraudar, trapacear e até roubar para aliviar a pressão.
É impossível garantir que uma pessoa terá o mesmo comportamento quando estiver relaxada ou sob pressão. Nosso raciocínio muda e a forma como pesamos riscos e oportunidades é diferente.
Não é justo avaliar o comportamento de uma pessoa num ambiente assim, como se ela estivesse de boa. E eu entendo isso. Não concordo, mas entendo.
É o famoso Erro Fundamental de Atribuição (porque se atribui o efeito à causa errada), um nome bonito para uma coisa feia.
¬ Antes de julgar, entenda.
¬ Dê o benefício da dúvida.
¬ Avalie o ambiente.
¬ Identifique os medos.
Você já viu alguém ter Um Dia de Fúria por causa do ambiente? Conta aqui pra gente (sem identificar o santo, claro!)
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